A força da agricultura familiar no RS

Crescimento da agricultura familiar se reflete na participação das agroindústrias na Expointer

Camila Souza
4 min readSep 7, 2019

Camila Souza

21ª Feira da Agricultura Familiar contou com 285 expositores | Foto: Camila Souza

A agricultura familiar, setor responsável pela produção de grande parte dos alimentos consumidos pelos brasileiros, tem ganhado cada vez mais destaque. De acordo com os dados do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), extinto em janeiro de 2016, há mais de 5 milhões de agroindústrias familiares no Brasil. A renda deste setor é responsável por 33% do Produto Interno Bruto (PIB) agropecuário e por mais de 70% da mão de obra empregada no campo. Os pequenos produtores foram a base da economia de 90% dos municípios brasileiros com até 20 mil habitantes, é o que mostra os dados do último Censo Agropecuário. Este setor também responde pela renda de 40% da população economicamente ativa no país.

Já no Rio Grande do Sul, a agricultura familiar corresponde a 85% dos estabelecimentos rurais e ocupa 30% da área agrícola. Além disso, é responsável por 30% do PIB gaúcho. As agroindústrias gaúchas recebem apoio de instituições como a Emater/RS-ASCAR, Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS) e Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul (Fetraf-Sul).

Comercialização

O crescimento da agricultura familiar no Estado se reflete na participação das agroindústrias na 21ª Feira da Agricultura Familiar, na Expointer. Em 2018, a feira contou com 285 expositores. Já neste ano, a duplicação do pavilhão possibilitou a vinda de 316 estabelecimentos, entre eles, 55 estão na feira pela primeira vez. É o caso de Elano Fernandes, responsável por uma agroindústria de panificados no município de Parobé há 3 anos. “Está sendo uma experiência muito boa participar da feira, consigo dar visão ao produto porque tem um fluxo de público grande.” Elano explica a importância da venda direta para o consumidor. “A venda direta para o consumidor nos dá a oportunidade de explicar o processo do produto e os ingredientes que usamos. Isso faz com que mais gente conheça o produto, é a melhor propaganda que a gente pode fazer”.

De acordo com Márcio Luiz Dalbem, engenheiro agrônomo da Emater-RS, os agricultores familiares são incentivados a criar contato constante com o consumidor. “A própria agroindústria pode se valer de informações e sugestões que o consumidor passa durante o processo de comercialização. Existe uma avaliação constante dos produtos no ato da venda, isso pode servir para o produtor adaptar e melhorar o produto para agradar ainda mais os compradores”, explica.

Processos burocráticos

Elisa Manfio, produtora de açúcar mascavo e melado em Erval Seco, conta que também realizou o sonho de participar da Expointer. “Há 5 anos tenho a agroindústria e esse foi o primeiro ano que consegui participar da feira. São exigidos muitos critérios, sempre faltava um que impedia de passar na classificação e esse ano deu tudo certo, estou muito feliz com a experiência”.

Para participar da Expointer, os agricultores passam por um rigoroso processo seletivo que leva em consideração alguns critérios, como ter a condição de legalidade tributária, sanitária e ambiental em conformidade com a legislação vigente. Além disso, as agroindústrias devem estar inclusas no Programa Estadual de Agroindústria Familiar (PEAF). Os agricultores familiares recebem auxílio de instituições nos processos de legalização, inscrição em programas de incentivo e obtenção de financiamento, mas, ainda assim, as questões burocráticas incomodam muitos produtores.

Zenaida Soares, produtora de embutidos em Sarandi, conta que o maior problema que enfrenta como agricultora é a dificuldade para conseguir financiamento. “Trabalho com a agroindústria há 10 anos. Sempre conseguimos pagar boa parte das contas com as vendas, mas o que nos prejudica é a burocracia para conseguir financiamento. As máquinas estragam depois de um tempo e são muito caras para trocar, precisamos de apoio e é muito difícil de conseguir”, explica Zenaida.

Terezinha Domareska, produtora de compotas de geleias em Pântano Grande, também lamenta as dificuldades para obtenção de incentivos. “Faz 4 anos que eu e meu marido temos a agroindústria e até hoje não conseguimos nos inscrever no Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar). Sempre nos dizem que não tem faturamento suficiente ou que o governo não tem verba. Meu comércio não cresceu mais por conta disso”, afirma Terezinha.

Mercado favorável e novas técnicas

Apesar das dificuldades que muitos produtores ainda enfrentam, a tendência é que o número de agricultores familiares continue crescendo no país, devido ao aumento do interesse dos consumidores pelos produtos naturais, livres de conservantes ou aditivos prejudiciais à saúde. De acordo com Dalbem, engenheiro agrônomo da Emater-RS, se os pequenos produtores se adaptarem às novas técnicas, terão ainda mais espaço dentro da economia. “A tendência é que a agricultura familiar tenha cada vez maior força se adotar e incorporar novas tecnologias no seu processo de produção, assim eles terão mais oportunidades de competir com a agroindústria de porte maior”, afirma Dalbem.

A agricultura familiar tem grande força dentro do Rio Grande do Sul. São os pequenos produtores que colocam o alimento na mesa dos gaúchos, portanto, o fortalecimento desse setor estimula o fortalecimento da economia do Estado como um todo e é fundamental para que os consumidores tenham cada vez mais alimentos de qualidade em suas mesas.

Produzida na disciplina Jornalismo Político e Econômico (2019/2) do Curso de Jornalismo (Campus Fapa) do Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter). Supervisão: Prof. Roberto Villar Belmonte

--

--

Camila Souza
Camila Souza

Written by Camila Souza

Jornalista formada pela UniRitter | Redatora no Correio do Povo

No responses yet